quinta-feira, agosto 20, 2009

Cultura Popular - Acre


O Santo Daime


O Estado do Acre detém praticamente as mesmas características culturais dos demais estados da região Norte do país, destacando-se a culinária com a utilização o pato e o pirarucu, que herdou dos índios, e o bobó de camarão, vatapá e carne de sol com macaxeira, trazido do Nordeste brasileiro logo quando iniciou a extração do latex, já que muitos nordestinos migraram para o Acre tentando uma melhor qualidade de vida.

Na cultura religiosa destaca-se a doutrina chamada “Santo Daime” que será nosso objeto de estudo neste ente federativo.



A historia da Doutrina Santo Daime começa com o nascimento de Raimundo Irineu Serra, em São Vicente do Ferré no dia 15/12/1892 no Estado do Maranhão. Irineu um negro alto com 2 metros de altura, filho do ex-escravo Sancho Martino e Joana Assunção, o fundador da Doutrina Santo Daime.


Irineu chega ao Acre com 20 anos, integrando o movimento migratório da extração do látex (seringal). Em 1912 vai para Manaus, no Porto de Xapuri, onde reside por dois anos, indo trabalhar posteriormente nos seringais da Brasiléia durante três anos e, em seguida, em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos.


De volta a Rio Branco, foi para a Guarda territorial, até chegar ao posto de Cabo, e em seguida participou e passou, no concurso para integrar a Comissão de Limites entidade do Governo Federal, que delimitava as fronteiras entre Acre, Bolívia e Peru, órgão esse, comandado pelo Marechal Rondon. E foi o próprio Rondon, que nomeou Irineu a Tesoureiro da Tropa (cargo de confiança).


Foi tão grande a saudade da floresta, que Irineu resolve voltar ao seringal, onde conheceu aquele que tornou-se um grande amigo: Antonio Costa.


Antonio Costa, falava para Irineu, sobre um xamã peruano de nome Pisango, que realizava trabalhos com um chá de nome ayahuasca, até que um dia convida-o para uma sessão. Irineu pensando respondeu :

“ Bom eu vou tomar, se for coisa que me agrade, que me sirva, que dê nome ao homem, se for coisa de Deus, eu prometo levar para o meus amigos...”


Participando da sessão, ao tomar a bebida, percebeu uma sensação diferente, um estremecimento interno, uma força estranha e viu um enorme brilho no local. Um dos participantes, evocou o demônio para ganhar dinheiro, mas, ao invés de Irineu ver demônios, como afirmavam os caboclos, ele só viu a cruz cristã de várias formas diferentes, uma cruz que percorreria o mundo inteiro. E percebeu, que a bebida o conectava com Deus. Ao terminar a sessão, que contava com 12 pessoas, Dom Pisango exclamou:
- “ Só Raimundo Irineu entendeu esse trabalho e é quem tem a condição de leva-lo para frente. O resto vive iludido e só pensa em dinheiro. “


Ao amanhecer do dia Antonio fala a Irineu, sobre os componentes da bebida : um cipó e uma folha. No dia seguinte, quando Irineu trabalhava na extração do látex no seringal, viu os raios do Sol, iluminando um grosso cipó, que sentiu ser o mesmo da bebida. E, perto de um igarapé onde costumava tomar água, viu um arbusto com frutinhas vermelhas, igual ao descrito por Antonio. Ao leva-lo até os locais, constatou-se tratar das duas espécies vegetais mágicas : o cipó jagube e a folha chacrona.


Ao aprender o preparo, combinou com Antonio, de juntos prepararem e tomarem a bebida, porém no dia marcado, Antonio não pode comparecer, e Irineu sozinho preparou três litros da bebida e a guardou para tomar junto com o amigo.


Combinaram numa Lua Crescente, ambos tomaram e sentiram a força da manifestação vegetal acompanhada de visões. Antonio contou a Irineu, que na sua visão, apareceu-lhe uma Linda Senhora, chamada Clara. Disse a Irineu que ela o protegia, desde a sua saída do Maranhão.
Depois dessa vivência, combinaram um novo encontro para a Lua Cheia, sábado seguinte. Nessa noite de Lua Cheia tomaram a bebida numa caneca grande. Irineu, após meia hora, sentiu náuseas e foi vomitar.


Depois de aliviado, olhou para a Lua Cheia, e a viu aproximar-se dele, com todo o seu brilho resplandecente e prateado. Dentro da Lua, viu uma Senhora, de beleza incomparável, sentada num trono, que lhe disse :
- Você está escolhido para uma importante missão, mas para isso deverá alimentar-se por oito dias apenas de mandioca cozida, sem sal, abster-se de sexo e álcool , para que nos encontremos novamente.


Após a dieta, ao tomar novamente a bebida, a visão da mulher apareceu novamente. Apresentou-se como a Rainha da Floresta, que Irineu compreendeu ser a própria Nossa Senhora da Conceição, a Padroeira da Doutrina Santo Daime, que lhe entregou o Império Juramidam, palavra explicada por um deus seus grandes discípulos, Padrinho Sebastião, como Jura = Deus e Midam = Filho. Foi assim, que em 1930 fundou a doutrina e tornou-se Mestre Irineu
Sr. Luis Mendes, contemporâneo do Mestre Irineu, conta que numa das aparições da Rainha da Floresta, ela disse que lhe ensinaria a preparar uma série de garrafadas, para vários tipos de doenças, e o Mestre lhe suplicou :
- Mas, Minha Senhora ! Não dá para colocar os poderes de cura das ervas juntos nessa bebida ?
E, a Senhora atendeu o seu pedido. A fama de curador do Mestre Irineu, espalhou-se pela cidade do Rio Branco, era procurado por pessoas das mais diversas condições sociais, culturais. Foi filiado ao Centro da Comunhão do Pensamento, onde recebeu honrarias, e também filiado à Antiga Rosa Mística RosaCruz.


Mestre Irineu ainda realiza curas na doutrina. Deixou mensagens canalizadas através de um conjunto de hinos (hinário) inspirados pela Rainha da Floresta e Seres Divinos. Canções de poder que transmitem com uma linguagem simples e poética cabocla, os ensinamentos bíblicos.
Ele é a célula-mater de várias instituições ayahuasqueiras organizadas em vários pontos do país e do mundo.


Fundou a doutrina que prega a Harmonia, o Amor, a Verdade e a Justiça. Um legítimo legado xamânico brasileiro, nascido onde temos a nossa maior força: Nossas Florestas.

Em Rio Branco encontra-se uma comunidade religiosa chamada Alto Santo (Centro de Iluminação Cristã Universal) que pratica o Ritual do Santo Daime, típico do Acre, de origem indígena, que usa o Daime, um chá natural feito com folhas e cipó, usado pelos índios como forma de aproximação a Deus. Todos tomam o chá, inclusive as crianças e os idosos. Os integrantes usam fardas de marinheiro e cantam o hinário, intercalando com Ave-Marias e Pai-Nossos.

Nenhum comentário: