terça-feira, janeiro 29, 2008

Os Estados Unidos estão prontos para um presidente negro?


Em setembro de 1963, um atentado à bomba destruiu uma igreja protestante na cidade de Birmingham, no Alabama, levando à morte quatro meninas negras entre 14 e 11 anos de idade. O caso, considerado um dos crimes mais chocantes da história dos Estados Unidos, também provocou ferimentos em mais de 20 pessoas que estavam reunidas no local, conhecido por ser um dos principais redutos de militantes da causa negra na cidade.

Este ato seria apenas mais um, embora com requintes de crueldade, contra a população negra dos Estados Unidos. Note-se que estamos falando de um intervalo de tempo de apenas 45 anos, ou seja, praticamente a idade do senador, negro, filho de imigrantes quenianos e pré-candidato democrata à presidência da república daquele país.

Será que os Estados Unidos estão prontos para ter como presidente este político cujo perfil vai de encontro aos estereótipos considerados ideais pelos norte-americanos?

Barack Obama pode representar a redenção de uma sociedade essencialmente formada, culturalmente, nos pilares da utilização da mão-de-obra escrava e pela segregação racial.

Hoje representa, principalmente para as minorias, guardadas as proporções, o que Martin Luther King representou nos tempos de segregação, quando defendia os direitos civis na América do Norte.

No início da década de 1960, Luther King liderou uma série de protestos em diversas cidades norte-americanas. Comandou manifestações para protestar contra a segregação racial em hotéis, restaurantes e outros lugares públicos. Em 1955, houve um boicote ao transporte da cidade como forma de protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra. Em 1963 liderou a histórica passeata em Washington onde proferiu seu famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"). Em 1964 foi premiado com o Nobel da Paz.

Sabemos que Barack Obama se propõe a disputar a cadeira máxima do Salão Oval na ala oeste da Casa Branca num momento histórico bem diferente do enfrentado por Luther King, encontrará uma sociedade mais madura, tolerante e sensível às lutas humanitárias, mas a cultura de um povo não se muda em 45 anos, muito menos quando isso pode representar a mais profunda mudança política da história da nação, um presidente que assim como a maioria dos líderes latino-americanos atuais, são provenientes de classes sociais menos privilegiadas. Será que os norte-americanos elegerão um homem com uma história de lutas e conquistas às duras pedras, ou seguirão a tradição de eleger candidatos provenientes de classes oligárquicas? Isso só o tempo dirá, cabe-nos apenas levantar as possibilidades e assistirmos a mais este episódio que poderá ter um desfecho de proporções históricas.