quinta-feira, dezembro 31, 2009

O Tom do Jobim e Seus Militares

Não podemos e não devemos crer que exista um povo que se envergonhe, que queira empurrar para baixo do tapete a sujeira do seu passado. Como pode um povo, de um país democrático, não ter o direito de conhecer sua história? Os fatos devem ser trazidos à luz para que a população saiba exatamente o que ocorreu e assim ter total noção do perigo do regime de exceção.

O governo brasileiro tem o dever de criar condições para que sejam dirimidas todas as dúvidas e sejam corrigidos erros do passado. Não é justo que uma mãe passe a vida procurando o cadáver de seu filho sem que se obtenha êxito nesta procura e sem ter uma perspectiva de elucidar esta questão.

Como pode uma nação republicana esconder em arquivos militares as verdades sobre algo tão nefasto quanto um massacre ocorrido nas matas do Araguaia? Isto só para citar um exemplo.

Nossas crianças não aprendem História do Brasil, mas estória do Brasil. Pergunte a um filho, um sobrinho, uma criança qualquer se já ouviram falar de Carlos Marighella, de Lamarca, de Pauline Reischtul, de Cabo Anselmo, de Gregório Bezerra, do Coronel Darci Viana Vilock, do Delegado Fleury. Não se está a falar de uma criança educada no norte, sul, nordeste ou sudeste. Fala-se de qualquer criança, educada em qualquer lugar do mundo. Isto é uma vergonha! Já diz o âncora do jornal da noite, e repete-se pelos mais longínquos grotões do país. Um povo que não conhece sua história, não se conhece.

A ode a imbecilidade popular é atualmente exaltada por Jobim e por milicos que fazem da obscuridade documental a principal fonte de alienação do nosso povo.

Justiça; Palavra complexa e ao mesmo tempo tão elucidativa, porém cada um enxerga a justiça que lhe é conveniente, pois quando os militares bradam que em 1979 houve a anistia ampla geral e irrestrita, tentam dar um ar de justiça na incineração de documentos comprobatórios dos crimes de tortura acontecidos em terrenos de Aeronáutica pouco tempo atrás. Tentam justificar a imbecilidade de um povo ante sua história, porém senhores de fardas, Anistia nada tem a ver com Amnésia.

Jobim, parafraseia seu genial homônimo o Tom e “desafina”. Desafina do pensamento moderno, pois parece viver na idade das trevas quando defende que os documentos, cujo conteúdo possa trazer constrangimentos à cúpula das forças armadas, continue escondidos, trancafiados em porões até que traças e ratos os destruam, ou até que se incinere mais e mais documentos públicos oficiais que deveriam estar nas prateleiras dos arquivos públicos nacionais.

Não se entende tal defesa da ocultação deste período, será vergonha? Medo? Será ainda ideologia? Precisa-se deixar claro que não se quer colocar atrás das grades quem ainda estiver caqueticamente vivo, nem tão pouco apedrejar túmulos de quem quer que seja. O que se quer, isto sim, é dar o direito de dona Elzita Santa Cruz enterrar dignamente os restos mortais de seu filho, Fernando Santa Cruz, que simboliza a luta das famílias que desejam encontrar e enterrar seus mortos. O que se quer, é dar o direito de vermos justiça ainda que tardia na reparação àquelas que foram severamente torturados pelo Estado. Não se que revanche senhores, o que não se quer é a penumbra, a barbárie e a injustiça.

Ao contrário do Tom, este Jobim não sente imensa dor quando dizemos que está “desafinando” os anseios do povo brasileiro.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Gratuidade da UPE e as contrapartidas ideais

Preliminarmente deve-se enaltecer a decisão do Governador Eduardo Campos em tornar gratuito o ensino da Universidade de Pernambuco, fato este que concatena o Estado com a política educacional dos demais entes federativos, cuja gratuidade já se observa há bastante tempo. Foi sem dúvida uma decisão corajosa e mostra o comprometimento da atual gestão com a educação superior em Pernambuco.

Porém faz-se premente uma reflexão acerca do modus operandi do sistema educacional brasileiro no que tange as contrapartidas dos estudantes que sem ônus conseguem se formar em equipamentos públicos muitas vezes de excelência, como ocorre em diversos cursos da Universidade Federal de Pernambuco.

A sociedade acadêmica detém extrema importância para o desenvolvimento do país, tanto nas ciências humanas, quanto nas ciências da natureza, fazendo com que muitas universidades brasileiras sejam referência em determinados campos de pesquisas, adquirindo respeito internacional e auxiliando o crescimento da nação.

É importante olvidar que, existe o outro lado da moeda, onde profissionais são, muitas vezes, formados nas melhores universidades públicas, com acesso a acervos bibliográficos extremamente ricos, com professores gabaritados e sua contrapartida para a sociedade é ínfima, quando existe. Errôneo é acreditar que a mera elaboração de papers, teses e TCC´s são formas objetivas de contribuição para a sociedade, têm sua importância, mas estão longe de serem as contrapartidas ideais.

A gratuidade é necessária, mas deveria vir amarrada com a prestação também gratuita, durante um período determinado, dos serviços ao qual o estudante sem ônus se habilitou, assim sendo, um professor formado por uma universidade pública, deveria, após formado, prover por um tempo determinado aulas gratuitas em escolas públicas como contrapartida social, um advogado, deveria exercer sua profissão durante um certo tempo gratuitamente nas sucateadas defensorias públicas espalhadas pelo país, um médico, o mesmo faria em um hospital público, e assim consequentemente ocorreria em todas as profissões cujo serviço é necessário à sociedade.

Não se está falando aqui, de estágios obrigatórios, o que pela própria concepção do nome, é necessário para a habilitação na profissão.

A discussão se baseia em todos os que, de maneira gratuita conseguissem se formar deveriam dar sua contrapartida para o desenvolvimento do país e do seu povo, fazendo valer os impostos que a sociedade investiu em sua formação, seria muito mais justo para com a sociedade e muito menos constrangedor para quem apenas se beneficia da gratuidade da educação superior como acontece hodiernamente.