sexta-feira, abril 25, 2008

Vale a pena postar...

Por Zé Teles - crítico musical do Jornal do Commercio - cultura JC 25/04/2008

A culpa por esta musiquinha de péssimo gosto que grassa o rádio e o show business brasileiro, muito mais o nordestino, é da axé music. Não a axé em si, mas o si da axé, porque se a gente for prestar atenção na axé, ela é apenas uma música de Carnaval. Inclusive uma música original, misto de levadas caribenhas com o frevo, isto no início, claro. Mas as letras são feitas por e para débeis mentais, argumenta, e interrompe-me a senhora. Como disse antes, axé é música de carnaval, e música de carnaval não precisa de letras maravilhosas, carece apenas que as letras tenham funcionalidade. Sejam fáceis de ser cantadas pela turba.


Marchinhas e frevos-canção eventualmente tinham grandes letras, mas em sua maioria eram deliciosas bobagens feitas pros três dias de folia (modo de dizer, que carnaval é um mês inteiro há muitos anos). Se pegassem, como muitas pegaram, continuariam a ser cantadas, mas apenas no Carnaval.


A axé. No entanto, conseguiu o que o frevo persegue até hoje, qual seja, virou música de ano todo, não se restringindo ao tríduo momesco (com perdão do clichê ). Mais do que isto, foi parar nas grandes gravadoras, numa época em que uma geração nascida durante a ditadura e crescida com ela, encontrava-se totalmente despolitizada e pronta para o consumo. O que este pessoal queria era divertimento, usar roupa e tênis de grife, iguaizinhos aos dos colegas. Um rebanho dócil. Esta geração (com as exceções de praxe) e a axé foram feitos uma para a outra. Vale lembrar que implicitamente aí também havia um conflito de gerações. Já que as velhas musiquinhas de carnaval não diziam mais nada a um cara (ou uma cara) que não era nem sonho erótico quando elas foram lançadas. As gravadoras, pois, vieram com gosto de gás em cima deste segmento. E tome axé!


A trilha sonora de carnaval de rebanho, com cercado e tudo. Tocada incessantemente no rádio e TV a axé conquistou corações e mentes (detesto esta tradução grosseira de hearts and minds, mas não encontro outra melhor no momento). Pior virou uma indústria extra-musical. Os empresários souberam, sabiamente, vender as bandas Brasil afora, criando carnavais em cidades onde não existia a folia. A axé espalhou-se pelo país nos Carnatal, Fortal, Garanheta, etc, etc, etc. Uma coisa de uma força comercial tão grande, e tão bem-estruturada que tornou eternas estrelas do gênero artistas que fizeram sucesso no começo da década passada, como Daniela Mercury; só emplacaram um único sucesso, Ricardo Chaves; ou que nunca tiveram um sucesso nacional, Margareth Menezes. Estes e outros astros da axé vivem de agendas cheias, com os carnavais fora-de-época, e bombam no carnaval de Salvador.


Até aqui estou sendo mais ou menos óbvio. Pois bem, prezadíssimos não sei quantos leitores virtuais, tava o que vos tecla gastando um tempo num bar aqui perto de onde moro. Não minha senhora, eu não vivo em bares não. Eu durmo em casa. Mas como dizia, antes de ser tão rudemente interrompido, tava no bar, e neste bar, com aparelhos de TV por todos os lados, passava um DVD de um grupo de pagode (não lembro qual). A musica era aquela pobreza franciscana: harmônica, vocal, de letras, mas o que me chamou atenção foi o fato do cantor agitar a galera (este pessoal não tem platéia, nem público: tem galera), usando os mesmíssimos artifícios do pessoal da axé: "É na palma da mão", "Tira o pé do chão", "Oi, oi, oi, oi", "Quero ver todo mundo mexendo" etc, etc, etc.


Estes maneirismos, ou cacoetes, como queiram, estão também nas bandas que infestam o Nordeste inteiro. Aliás, explicitamente, tanto que elas já entraram nos carnavais fora-de-época acrescentando um "Elétrica" ao nome. Assim Saia Rodada vira Saia Elétrica, Calcinha Preta, vira Calcinha Elétrica. Desta forma as bandas foram admitidas no clube da axé, tocam até em Salvador no carnaval e no festival de verão. Os baianos podem ter fama de preguiçosos, mas não são burros. Sacaram que tavam perdendo terreno para as bandas, como perderam os sertanejos, que foram, quase todos, varridos do Nordeste, e puseram em prática a máxima: "se você não pode com o inimigo, una-se a ele". Uniram-se, e só o Senhor do Bonfim sabe o que vem pela frente.

quarta-feira, abril 23, 2008

Caso Isabela e a exploração da imprensa


Temos uma única certeza: foi um crime brutal. Mais que isso até hoje são meras especulações. Enquanto a polícia não concluir o inquérito é apenas o que temos.

Na contra-mão da lógica policial, de que quanto menos divulgamos as investigações de um crime, melhor, a imprensa se põe como jornalismo investigativo, jornalismo judicial e jornalismo punitivo, além do jornalismo espetaculoso. Agindo assim, acreditam, dá Ibope.

Não deveriam programas peder sua manhã, tarde e noite dessecando o caso como desseca-se um cadáver. Deveriam ter cautela ao divulgar noitícias e possibilidades, como o caso do pedreiro (que teve por um momento a população julgando-o responsável pelo crime). Deveriam fazer o trabalho da imprensa, de divulgar o que for concluido e deixar as especulações para a população basileira, que adora esse tipo de coisa. Inclusive eu, como bom brasileiro tenho minha suposição, mas como o próprio nome diz, é só uma suposição e não me cabe sair por aí divulgando o que penso sobre o que aconteceu num local onde não estava. Deixo este trabalho com Gil Grisson do CSI.

Um pouco de cautela e canja de galinha não faz mal a ninguém

terça-feira, abril 15, 2008

ACER nunca mais!

Meu notebook quebrou! Poderia ser uma coisa normal já que equipamentos quebram, o problema é que, quebrou com 1 ano e 3 meses de uso, ou seja, 3 meses após a garantia padrão. Só que não foi qualquer quebra, foi uma peça chamada CHPSET que todas as assistências a que levei desenganaram-me com relação ao conserto desta máquina. Resumindo, perdi um notebook com 1 ano e 3 meses de uso.

Continuaria sendo até aceitável, lastimável mas aceitável, não fosse um agravante: TODOS os técnicos a que levei disseram que este é um problema corriqueiro numa linhagem de notebook, e justamente a que tive a infelicidade de comprar. Trata-se do fabricante ACER e da série ASPIRE 3650.

Ora, Já que foi detectado que vários deram este mesmo problema não seria o caso de a Acer promover um Recall?

É um absurdo ter apenas uma "loja" como assistência técnica (credenciada pelo fabricante) em Recife, e pior só para eles te darem o orçamento te cobram R$50,00 antecipados e 30 dias para análise e dizem que só resolve se trocar a placa mãe - que custa em média R$ 1.100,00, que tem grandes chances de quebrar novamente, já que necessariamente tem que ser igual.

Pois bem, o que quero dizer com toda esta ladainha é algumas orientações aos leitores:

1 - Só comprem um computador quando conhecerem a assistência técnica;
2 - prefiram aqueles que lhes dão a opção de garantia extra (mesmo que paguem pouco a mais pra isso, lhes garanto que vale a pena);
3 - tentem evitar a Acer, pois o barato pode sair muito, mas muito caro, pois além do transtorno, seus dados ficarão impossibilitados de ser acessados a curto prazo.

segunda-feira, abril 14, 2008

FOLHA EXPLICA - CHICO BUARQUE

Assim como Caetano Veloso e tantos outros ícones da cultura brasileira, Chico Buarque será estudado pela série "Folha Explica" da Folha de São Paulo.

Confira a introdução do “Folha Explica Chico Buarque”:



Não é preciso insistir na importância de Chico Buarque para a cultura brasileira. Ninguém duvida dela. Sua atividade como artista, que se estende por quatro décadas e segue muito afiada, já legou ao país uma obra muito extensa e diversificada, mas ao mesmo tempo muito coesa e coerente. As dificuldades de quem pretende se aproximar dela começam por aí: como puxar o fio que a atravessa do início ao fim sem desdenhar suas complexidades, suas modulações, suas sutilezas, suas variações no tempo?


De nenhum outro compositor ou escritor contemporâneo talvez se possa dizer que a história do Brasil, de 1964 até hoje, passa por dentro de sua obra. É exatamente essa a sensação que nos transmite o contato com a criação de Chico. Ela não apenas registra a nossa história, como freqüentemente a revela para nós sob ângulos insuspeitados, amarrando e comunicando a experiência coletiva aos segredos e abismos da subjetividade de cada um. É o inconsciente do país que parece falar na rede simbólica que Chico nos estendeu ao longo dos anos.


Estas páginas não pretendem ser uma biografia, embora contenham elementos da vida do autor e se fixem em algumas passagens marcantes de sua trajetória. Não são, tampouco, uma análise de viés acadêmico. É curioso, aliás, notar como a universidade, no caso de Chico, tende a mimetizar as clivagens do mercado e a tratar sua obra de forma fragmentada - ou, melhor, fatiada. Fala-se muito em “Chico e a política”, “Chico e o feminino”, “Chico e a malandragem”. Este livro foi pensado desde o início como um ensaio, uma tentativa parcial de interpretação do autor e de sua obra, sustentada por uma idéia que de alguma maneira organiza as demais. Seus termos estão elucidados já no primeiro capítulo: “De Oscar a Sérgio: Utopia no Ar”.


Parte do país da bossa-nova e da construção de Brasília e volta à obra de Sérgio Buarque, pai do compositor, para definir os horizontes em que Chico se move. Ele surge para o país no momento seguinte ao golpe de 64, justamente quando desmorona a fantasia de uma civilização brasileira, tal como vinha sendo gestada e era visível no final dos anos 50. Na figura de Chico, a utopia do período anterior de alguma forma se mantém e se renova. Sua obra será ao mesmo tempo uma espécie de sismógrafo do seu desmoronamento. O segundo capítulo, “De Tom a Noel: Ilusões Perdidas”, trata do início da carreira de Chico à luz do revés que representou 64. O autor da marchinha “A Banda”, a despeito da mitologia que se criou em torno de seu nome, mantinha uma relação complexa e desconfiada com a cultura de esquerda que prevaleceu no país até 68, quando foi solapada pelo AI-5. “Nem Toda Loucura É Genial” dedica-se às relações conflituosas entre Chico e o tropicalismo, tema central dos embates culturais dos anos 60, sobre o qual pouco se discutiu para além do clima de Fla x Flu. O capítulo avança no tempo para mostrar como Chico e Caetano respondem de formas distintas aos mesmos problemas, desde então até hoje. Pode-se dizer que são duas visões do Brasil.


O capítulo 4, “Generais, Malandros, Anti-Heróis”, ocupa-se dos anos 70, quando o enfrentamento com o regime militar fixa uma imagem de Chico que de certa forma ecoa até hoje, mas que já naquela época era insuficiente para dar conta do que ele fazia. “Bye Bye, Brasil”, na seqüência, procura revelar como Chico irá traduzir, ao longo dos anos 80, o sentimento de impotência e de desajuste diante do desmanche de um projeto histórico nacional e popular, o mesmo que o golpe havia abortado e que não pode ser mais retomado quando as forças que haviam sido derrotadas reaparecem em cena. A música que dá título ao capítulo, uma obra-prima, não deixa de ser também o avesso da profecia tropicalista. A expansão do lirismo, que assume nova dicção, e o distanciamento em relação à referência política são traços que distinguem a obra do compositor a partir dessa época.


“Hora do Recreio” é um respiro e uma homenagem ao futebol, ou, antes, à importância fundamental do futebol na vida de Chico. A canção que ele dedicou ao tema fala por si. O último capítulo, “Cidades Impossíveis”, parte dos anos 90, quando os romances vêm introduzir uma grande novidade no conjunto de sua obra e já não se pode mais falar dele apenas como compositor. O contraponto entre as canções dos últimos discos e a literatura, ambas de um rigor formal incomum, cria uma tensão muito particular entre a imagem de um país inviável e a preservação da utopia pela mesma voz que canta o seu desaparecimento. Não deixa de ser curioso que alguém tão consagrado esteja tão decididamente na contramão da cultura dominante e tão pouco à vontade com os ares do mundo.


Serviço: “Folha Explica Chico Buarque” - Autor: Fernando de Barros e Silva - Editora: Publifolha - Páginas: 184 - Quanto: R$ 20,90 - Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha. Fonte: Folha Oline – Foto: Divulgação